“ O pé do dono é o adubo da terra”, era divisa da família “Espírito Santo”, base do grupo económico BESA, por sinal proprietária deste jornal.
Em 3 de Fevereiro de 1955, os jornais de Lisboa tiveram quase metade da edição em anúncios de necrologia. A TAP, o Cassequel, o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, a SACOR, a CADA, a Companhia de Seguros Tranquilidade, a Academia dos Amadores de Musica, a Fundação Ricardo Espírirto Santo, várias delegações do Sporting, e muitos outros, manifestaram-se na imprensa de então, pela morte da figura incontornável do grupo, o Dr. Ricardo Espirito Santo Silva. Salazar e quase todo o ministério acompanharam o funeral que teve quase Lisboa em peso, segundo as descrições da época.
Começou esta saga na casa bancária Beirão Pinto e Silva & C.ª, fundada em 1884, depois a casa bancária José Maria Espírito Santo Silva, que em 1920 cria o Banco Espírito Santo, e com a fusão em 1937 com o Banco Comercial de Lisboa, se transforma no Banco Espirito Santo e Comercial de Lisboa, designação que se manteve até meados dos anos 90 do século passado, dando depois origem ao BES, que hoje conhecemos.
Ricardo Espirito Santo era um homem de enorme vitalidade e fina argúcia, que para além da sua visão sobre a multiplicação do dinheiro, era um “mecenas”, um desportista de eleição, um hábil político, de tendências germanófilas no decorrer da 2ª guerra mundial, e um sedutor que partilhou muitas companhias femininas, algumas notáveis, como por exemplo a fadista Amália Rodrigues.
Era um dos três irmãos, filhos de José Maria, que acabou por criar, um dos maiores grupos financeiros eminentemente familiares em Portugal e nas colónias, proprietários, ou com participação significativa em empresas como o Cassequel, e posteriormente da Companhia do Açúcar de Angola, da CADA, da Companhia Tranquilidade, da Petrofina, da SACOR e da subsidiária angolana ANGOL (a antecessora da SONANGOL), TAP, Companhias de seguros Bonança, União, Cimianto, AGRAN, entre outras.
Com a sua morte o seu irmão Manuel continua na direcção do BESCL, e o seu irmão José fica no conselho geral. Manuel morre em 1973, quatro anos depois da morte de José. A Manuel sucede à frente do grupo Manuel Ricardo, tio do actual presidente do grupo, Ricardo Espirito Santo Salgado, partilhando a gestão com o seu primo José Maria Ricciardi, de um universo que se estende a três continentes num universo de quatrocentas empresas, em ramos tão diversificados como a banca, a indústria transformadora, extractiva, pesada e mineira, o turismo, o imobiliário, transportes, comunicação social, agricultura e pescas.
A ligação de Ricardo Espírito Santo à banca internacional nos tempos da IIª guerra mundial, o facto de ser uma pessoa de grande cultura e muito próxima da aristocracia europeia, permitiu que nesses anos o Banco se consolidasse através da aquisição de outras empresas, nomeadamente algumas casas bancárias portuguesas de menor dimensão.
Germanófilo, intimo de Salazar e seu grande admirador, como se tem podido observar pela correspondência trocada entre ambos, recentemente divulgada num livro da “Queztal” de Novembro de 2009, titulado de “Salazar e os Milionários” , Ricardo marcou de forma inequívoca a passagem de uma banqueta, a um grupo económico importante no contexto português e com sólidas alianças no contexto financeiro internacional, que foi determinante no seu reerguer depois dos períodos conturbados em 1975, em Portugal e em Angola. É também conveniente ter em conta, que só com a política proteccionista de Salazar aos grandes grupos económicos portugueses, foi possível o desenvolvimento das chamadas “setenta fortunas” que governaram Portugal.
Este grupo nasceu na Monarquia, atravessou discretamente a 1ª Republica, exuberante no salazarismo, acreditava-se que finado em 1975, reergue-se no final dos anos 80, trazendo para a esfera da lusofonia a experiencia recuperada na finança europeia, e hoje é um grupo que vai mantendo as características determinadas pela matriz familiar inicial.
Para este artigo recorreu-se ao livro de Henrique Guerra: “Angola: Estruturas Económicas e Sociais” das Edições Maiaka (1973), Eduardo Sousa Ferreira, “Capitalismo português e neocolonialismo” CIDAC 1975, Maria Belmira Martins “ Sociedade e Grupos em Portugal” edição do autor 1972 e” Portugal de Perto” de Maria Antónia Pedroso de Lima, D. Quixote, Lisboa 2003. Também me ajudou, um artigo do meu antigo professor Romero Magalhães, da revista Visão (Julho de 1999)
Fernando Pereira
21/3/2010
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