O comboio já circula entre o Lobito e o Cubal. Uma equipa de reportagem do Jornal de Angola fez essa viagem atravessando savanas e montanhas. O Caminho-de-Ferro de Benguela está em obras avançadas até à ponte sobre o rio Kwanza, na província do Bié, não muito distante da província do Moxico.
O comboio mete passageiros em pequenas e grandes estações. No Cubal entraram centenas de pessoas. Em Caimbambo muitas mulheres carregam os seus “negócios”, sobretudo produtos do campo. Há dezenas de pontes construídas ou reconstruídas, estações erguidas de raiz, carris prontos a serem montados, tudo a pensar na reposição da circulação do comboio até ao Luau, na fronteira com a República Democrática do Congo.
Tchinjenje, Ukuma, Longonjo, Kamacupa, Katabola, Chipeta, Tchicala Tcholohanga só se fala no regresso do comboio.
No Lobito, a placa giratória é a zona do “Negrão”, onde se cruzam todos os comboios. O Porto do Lobito é um importante aliado do CFB. “Aqui no Lobito todas as famílias têm um membro a trabalhar ou no porto ou no caminho-de-ferro”, diz um empregado do hotel “Turismar”, que nos serve de poiso enquanto esperamos pela “hora da largada” para o Planalto Central.
O “gigante adormecido” que é o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) começa a dar sinais claros de recuperação, com os trabalhos de reposição da linha-férrea. A circulação do comboio de passageiros já é regular até ao Cubal, um centro urbano importante do interior de Benguela.
Daniel Kipaxe é administrador e director-geral dos Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB) há nove anos. “Vocês vão viajar num ATL até ao Cubal. Podem parar quando quiserem para fotografar tudo o que está a ser feito na reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela”.
Os ATL (Automóveis para Transporte de Linhas) são veículos ferroviários que servem para apoio aos trabalhos de reparação e inspecção de linha. Têm oito lugares e a sua velocidade pode chegar aos 120 quilómetros por hora, mas, à cautela, o nosso ATL não passou dos 50.
O inspector-chefe Paiva Humberto Sacadura Cabral e o chefe da protecção física do CFB, António de Carvalho, acompanharam a reportagem do Jornal de Angola. Descreveram os trabalhos na via com todos os detalhes e a realidade de cada uma das localidades por onde passa o comboio. Pelo meio, contaram cenas do “tempo da guerra” para fazer chegar o comboio ao Huambo e mesmo alguns episódios tristes, como aquele em que um técnico perdeu a vida ao ser arrastado pela fúria das águas do rio Cubal, na região do Guviriri, enquanto trabalhava na montagem da estação geométrica.
Comboio do progresso
Mal tomáramos o ATL, fomos confrontados com a possibilidade de parar a viagem em Caimbambo “porque anda um comboio a espalhar brita na linha”, disse o inspector comercial do CFB, Pedrosa de Oliveira. A brita é matéria-prima indispensável para a colocação das travessas e outros componentes para a montagem de uma linha-férrea.
O ATL fez uma ligeira paragem na estação da Catumbela e outra no Negrão, a placa giratória dos comboios. Do Negrão a Caimbamdo, apenas uma paragem no Guviriri, onde existe um aparelho que mede a posição das águas do rio Cubal, cujas enchentes causaram, num passado recente, enormes perdas de vidas e bens, sobretudo colheitas e gado. Depois de alguns contactos telefónicos chega a informação: “podemos chegar até ao Cubal”, diz António de Carvalho. Para trás ficaram as localidades de Cango, Ombe, Câbio e Mina.
Cubal fica a 154 quilómetros do litoral e a 32 do Caimbambo. A estação do caminho-de-ferro está funcional e existe um serviço de transporte de passageiros regular, às segundas, quartas e sextas-feiras. A composição tem 15 carruagens e transporta uma média de 1500 passageiros por viagem.
Lopes Eugénio é o chefe da estação no Cubal e trabalha há 50 anos na empresa. Desde 1992 que está no Cubal, depois de ter passado, como diz, por quase todas as estações de Angola. Vestido a preceito, o ferroviário mostrou-nos os cantos da casa e falou da importância do comboio na vida das populações.
“Esta estação é muito importante, porque o município vive da agricultura e os camponeses precisam de escoar e vender os seus produtos, sobretudo nas cidades do litoral. Ora, isso só é possível de comboio, pois ele transporta tudo”, refere Lopes Eugénio, acrescentando que “no dia em que há comboio, esta estação fica cheia de gente, vinda de todas as comunas e aldeias do município do Cubal. Até gente de Benguela chega aqui”.
Sinais de vitalidade
Há sinais de grande vitalidade no Cubal. O comboio devolveu a esperança de uma vida melhor às populações. “Havia muitos produtos a estragarem-se no campo, mas agora as pessoas podem ir a Benguela ou ao Lobito e venderem milho, feijão, batata-doce e outros produtos e adquirirem, depois, o que quiserem”, afirma Lopes Eugénio.
Despedimo-nos do velho ferroviário com um “tulissanga” (até breve). Do Cubal para frente, o comboio de passageiros ainda não apita. Só circula o comboio de material para a reparação da linha.
Mais 54 quilómetros e estávamos na vila da Ganda, passando por Membassosso, Chimboa e Sambú, localidades atravessadas pela linha-férrea. Na Ganda prosseguem os trabalhos na linha. É uma corrida contra o tempo, afinal 2012 está perto. Já é noite quando alcançámos Tchinjenje, município da província Huambo. Os trabalhos prosseguem em “grande velocidade”. Vai ser assim até ao dia em que o comboio parta do Lobito até à fronteira.
Fotos do Jornal de Angola e da página de CPires
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