sábado, 28 de junho de 2008

Doenças tropicais III

Pobreza passa a caracterizar doenças tropicais
Houve, e ainda há, no meio científico, um esforço concentrado em mostrar o quanto o termo“doenças tropicais” estava equivocado e o quanto expressava o preconceito europeu em relação aos povos que viviam nos trópicos. O médico sanitarista Frederico Simões Barbosa, da Universidade Federal de Pernambuco, no artigo “
Saúde e trópico” defende a impossibilidade de se definir uma moléstia como tropical

Segundo ele, a definição não resiste a três argumentos: as doenças tropicais não são as mesmas nas diferentes regiões tropicais do mundo; nenhum fator, dos muitos fatores que causam as doenças, pode ser determinante exclusivo dessas doenças; e raras são as doenças que se limitam às regiões tropicais. O próprio Carlos Chagas, em uma aula inaugural na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1926, já afirmava que eram “muito poucas, em verdade, e conta-se por algumas unidades, as doenças exclusivas de países tropicais, e também raríssimas aquelas circunscritas aos países frios e temperados”.
Ainda hoje o termo é controverso e diferentes critérios são utilizados para definir as doenças tropicais. O clima, a distribuição geográfica ou a ecologia dos parasitas e vetores, ainda são critérios relevantes, mas aparecem associados à categoria de mais força na atualidade: a pobreza. Dentro desta hipótese, são associadas aos trópicos as doenças decorrentes de falta de saneamento básico, tais como, amebíase, helmintíases, protozooses intestinais, cólera. Além das relacionadas à precariedade das habitações e condições de vida, como tripanossomíase, toxoplasmose, hanseníase, tuberculose, peste, leptospirose e, mais recentemente, a aids, cuja origem foi atribuída ao continente intertropical florestal africano.
"A maior parte dessas doenças não está associada exclusivamente às qualidades dos meios climáticos tropicais, apenas grassando nos países tropicais devido às condições de subdesenvolvimento. Este é o caso da tuberculose, da aids, das infecções intestinais e da desnutrição infantil, dentre outras", ressalta Ferreira. Muitos
pesquisadores têm sugerido a adoção de termos como doenças negligenciadas, emergentes e reemergentes, ao invés de tropicais, devido a essa nova caracterização dessas doenças.
A associação entre condições socioeconômicas e doenças tropicais não é nova. Os médicos europeus que formaram a Escola Tropicalista Baiana, antes do estabelecimento de uma medicina imperial no Brasil, já questionavam o determinismo climático e racial e atribuíam a proliferação das doenças às más condições em que viviam negros e índios nas colônias. Suas hipóteses, porém, perderam força no decorrer da história e, nas últimas décadas do século XIX, emergiu uma ciência construída pelas nações coloniais, marcada pelo pessimismo climático e por determinismos raciais, que orientou os rumos posteriores da pesquisa brasileira.


(CONTINUA)

























Pensar e Falar Angola

Sem comentários: