Foi em 1575, quase um século depois de Diogo Cão ter descoberto e assinalado com os seus padrões toda a costa de Angola (1482-1486), que Paulo Dias de Novais, primeiro Governador e capitão-mor das Conquistas do Reino de Angola, desembarcou na Ilha de Luanda, com cerca de 700 pessoas, 350 das quais homens de armas, padres, mercadores e servidores estabelecendo o primeiro núcleo de portugueses.
Aqui, encontrou, além de alguns compatriotas, muita gente que nela vivia, toda, no dizer dos cronistas, “muito bem disposta ao cristianismo”.
Um ano depois, 1576, reconhecendo não ser “o lugar acomodado para capital da conquista”, funda em terra firme a vila de São Paulo de Loanda, e logo a igreja de S. Sebastião, no Morro de S. Miguel.
À volta da Igreja, a vila foi crescendo, tomando foros da cidade em 1605, no governo de Manuel Cerveira Pereira.
A câmara de Luanda deve ter tido início nessa altura em que a vila se estabelece em terra firme. Não há documentos precisos da sua fundação, mas sabe-se que Paulo Dias de Novais logo “criou os cargos e oficiais necessários ao governo da nova Colónia”. Em algumas descrições se assinala a sua presença em actos solenes desde 1595. E em 1611 é já a Câmara que, com o bispo e nobreza, elege o novo governador Banha Cardoso, por morte repentina do antecessor.
Por várias vezes, de 1667 a 1704, teve o Senado da Câmara intervenção directa na governação da Colónia. Depois é criado o lugar de “Mestre de Campo” para substituir os governadores.
As primeiras perturbações causadas pelas investidas holandesas têm lugar em 1624. Em 1633 armam-se em Luanda 5 navios de guerra para combater as suas naus que, na costa de Benguela, ameaçavam o comércio. Com o aparecimento, na baia, da Grande Armada, sob o comando do almirante Pedro Houtbeen, em 24 de Agosto de 1641, o povo e o governo, alarmados, abandonaram precipitadamente a cidade para se acolherem ao presídio e vila de Massangano.
Salvador Correia de Sá e Benevides, que ao serviço de Portugal vinha realizando no Brasil uma obra notável de governação, depois de valorosos feitos militares, em terra e mar, é encarregado pelo rei D. João IV, de promover a restauração de Angola, caída em poder dos holandeses.
Acompanhado de 1 200 homens de armas e uma frota de 12 navios, fez-se ao mar em 12 de Maio de 1648, fundeando em 12 de Agosto na baía de Quicombo. A inclemência do mar faz perder a nau almirante e os 300 homens que continha, levantando-se “uma tormenta de marés tão fortes, coisa não vista por outros navegantes naquela paragem” (Cadornega). Mas, mesmo sem ela e sem esses homens, Salvador Correia de Sá chega à baía de Luanda, ante o pasmo da gente holandesa, que fica convencida tratar-se apenas de simples guarda avançada de grande esquadra.
Apressadamente se refugiam os de terra na Fortaleza de S. Miguel. Mas o desembarque faz-se na manhã seguinte, de 15 de Agosto e, em assalto bem conduzido, rende-se o inimigo dominado por menos de metade de homens portugueses.
Um novo período começa. Pretende-se apagar a memória do domínio holandês, a cidade muda o seu nome passando a ser São Paulo de Assunção de Luanda, por ser aquele o dia da Assunção da Virgem, que no seu brasão passa a figurar.
Por alvarás régios de 28 de Setembro e 9 de Dezembro de 1662, aos oficiais da Câmara da Cidade de Luanda e seus moradores, foram concedidos os mesmos privilégios dos cidadãos da cidade do porto, em consideração aos serviços prestados à Restauração de Angola. O seu brasão de armas fica para sempre registado nos arquivos da Torre do Tombo, entre os das outras cidades e vilas portuguesas.
Antes da invasão holandesa e segundo a descrição de Dapper e a gravura que acompanha a edição francesa da sua obra (1686), na cidade existiam já as fortalezas de S. Miguel (1638), no mesmo local em que hoje se encontra, do Penedo, de Santa Cruz e algumas outras desaparecidas, várias igrejas, conventos dos Jesuítas, dos Terceiros Franciscanos, Hospital da Misericórdia e diversas residências, principalmente na parte baixa de cidade.
Mas, a cidade, depois da reconquista, teve de ser construída de novo (Cadornega), restauradas as casas dos habitantes, as igrejas desbaratadas, mostrando por toda a parte a ruína.
Entre as construções mais notáveis do fim do mesmo século, existiam ainda, muito bem conservadas, a igreja de Nossa Senhora da Nazaré, que o Governador André Vidal de Negreiros iniciou em 1644; a igreja dos Carmelitas (1663), e ainda a fortaleza de S. Miguel completada na época, com recinto fechado, de terra batida e alvenaria.
São do século XVIII o acabamento da fortaleza de S. Pedro da Barra, de S. Francisco, no antigo lugar do forte do Penedo, e de outras obras de vulto como o Quartel de Infantaria (1754), agora demolido, o Palácio do Governo (1761), o Terreiro Público (1765), a Alfândega (1770 a 1779) e o passeio público da Nazaré (1771).
Pouca era, porém, a casaria da cidade ainda nos meados do século XIX, que só então começa a desenvolver-se rapidamente; das construções mais importantes desse período são o mercado da Quitanda (1818), o primeiro cemitério (1806) e, já no fim do século, o hospital de D. Maria Pia, notável ainda hoje pelo seu plano e grandeza e que as obras de vulto de anos recentes melhoraram-no consideravelmente.
É a mistura de todas essas construções, antigas e modernas, que dá à cidade um aspecto característico. O aumento da população e o desenvolvimento comercial da cidade foram, como é natural, os principais factores do seu engrandecimento.
Por uma das cartas de Garcia Mendes Castelo Branco, de 1621, vê-se que a cidade deveria ter nessa época cerca de “400 vizinhos”; em Janeiro de 1800 a população era já de 6 500 almas.
Na recente “História de Angola “, de Elias Alexandre da Silva Correia, publicada na Colecção dos Clássicos da Expansão Portuguesa, vamos encontrar números curiosos sobre o comércio dessa época (1787).
Reduziu-se então o comércio aos escravos e seus alimentos, ao marfim e à cera. Rendia a mercadoria humana, que se exportava, pelos dois portos de Benguela e Luanda, 144 contos anuais.
O marfim era também receita do Estado, e pela Fazenda eram remetidos os recursos daí resultantes, ao erário de Lisboa. Nessa época as despesas e receitas com a Colónia de Angola davam a Portugal um saldo positivo de 162 contos (162.131$540 rs.).
Em 1936, o valor da exportação feita pela alfândega de Luanda é de cerca de 67 000 contos, representado 22%do valor total da exportação da Colónia; e em quantidade, cerca de 64 500 toneladas, ou seja 26% do total da Colónia.
retirado de: página oficial do Governo Provincial de Luanda
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