Há sorrisos que só são belos porque são do Sul. E no Sul não há pecado porque fica abaixo do Equador. E os sorrisos são mais solidários e mais belos. O encontro com o Luandino é daquelas coisas que só acontecem porque todos somos do Sul e amamos a nossa Terra. E como foi lindo ouvir algumas estórias (o Mia Couto que me perdoe mas também gosto desta palavra sem h! É mais sonora e menos aspirada) contadas por quem sabe, estórias de um tempo que todos vivemos. Lá na banda ou cá pela Europa. Mesmo que sentados no sofá à espera que outros as vivessem por nós. Contava Luandino (mil perdões se não sei contar como tu meu caro escritor):
- Naqueles tempos, nada fáceis por sinal, vivia-se em Luanda com desconfianças. De tudo e de todos! E nos descuidos da noite, ou mesmo do dia, a casa podia ser aliviada do pouco que havia. Se o intruso era apanhado lá no alto, mesmo no 15º andar, tinha que ter asas, como o Red Bull, senão se esborrachava lá bem no fundo, no pouco alcatrão que havia nas ruas da Lua. Sentença lida, pena executada!
Poucos quetionavam a forma rápida desta justiça popular e muitas das vezes até televisão tinha para cobrir o acontecimento. E foi o que aconteceu naquela tarde em que o culpado, bem no meio da rua, tinha vindo pelas escadas abaixo (sofreu redução de pena após recurso de alguns moradores do prédio), parecia bola de futebol tanto pontapé e bolachada tinha levado. Até o negro da sua pele estava mais lustrado apesar de um pouco curtida como pele de vaca preparada para fazer sapato. Não havia cirurgião plástico lá para os lados do Josina Machel/Maria Pia que fizesse tão bom trabalho. O camarada ladrão sangrava por tudo o que tinha por onde sangrar, os olhos pareciam de boxeur quase em kO, fechados como persianas de vizinho que não queria saber de nada, suor saía de todos os poros da pele e outros líquidos saíam de outros poros e de outras peles. O caluanda, devia ser do Sul para ser ladrão diziam alguns, nem sonhava que tinha direito a TPA. Ali mesmo à sua frente a jornalista, lhe parecia muito bonita por entre o nevoeiro e a chuvinha miudinha que havia no seu rosto, lhe perguntava mesmo o que tinha acontecido e se concordava com a pena. Discurso do madiê:
- Porra, tá tudo certo! Mesmo aí fui caçado a roubar. Tá certo que errei! Mas puxa, vieram aí os camaradas e começaram logo a descarregar sem perguntar nada. Foi só porrada, socos nas fuças, pontapés em todo o lugar, e aí fiquei nesse estado. Mas vê só camarada jornalista, não tá certo, mesmo com a razão esses camaradas deviam se esperar para eu poder fazer auto-crítica!
Assim mesmo! Na nossa Luanda lá nos anos 70 e muitos. Espero que um dia o José Luandino Vieira nos escreva mais belas estórias dessa nossa Luuanda que nos orgulha e nos faz ter orgulho de sermos angolanos. Estamos juntos!
Pensar e Falar Angola
segunda-feira, 25 de junho de 2007
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