MPLA: QUANDO NASCEU?
Joaquim Pinto de Andrade, um nacionalista da primeira hora, disse-me:
«Nos anos 50 havia em Luanda inúmeros grupos de 3-4 pessoas febris por lutar pela independência nacional. Eram os primeiros tempos, não havia a consciência de se estar a fundar nada com estatutos, com programa, havia muito espontaneismo, muita autonomia, todos lutavam pelo mesmo mas tinham de se manter estanques evitar prisões. assim, havia o PLUA, o MIA, o MINA, o Partido Comunista Angolano, o MNA... o Botafogo...etc.
Faziam panfletos, era muito importante fazer panfletos para transmitir a mensagem, e havia extremo cuidado em distribuir os panfletos porque os informadores da PIDE estavam por todo o lado.
Alguns panfletos eram enviados clandestinamente para o exterior do país para que lá fora também se conhecesse a luta contra o colonialismo.
Como disse, eram siglas sem programas rigorosos, sem fundadores, isso não interessava.
Até que Viriato da Cruz escreve um Manifesto em Dezembro de 1956, o «Manifesto de 56», um manuscrito que eu li, e nele, depois de fazer a análise da situação em Angola exortava os nacionalistas a constituirem-se em muitos grupos, nas escolas, nos bairros, em todo o lado, numa autêntica sementeira de ideias para criar um amplo MOVIMENTO POPULAR PARA A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA, um movimento que aglutinasse e fosse o multiplicador de todos esses grupos.»
Assim nasceu um projecto de unidade nacional para enfrentar o colonialismo, projecto que teve o seu início informal para depois amadurecer com ESTATUTOS, PROGRAMA E DIRECÇÃO.
Três anos depois, na Conferencia Pan-Africana de Accra, os patriotas angolanos presentes aprofundam, formalizam, institucionalizam aquele princípio de 1956: Um Movimento Popular de Libertação de Angola.
Este conceito é novo, moderno, pois não apela à dispersão dos grupos nacionalistas mas à sua concentração num só, e isso é algo que nasce, cresce, amadurece, ganha forma, contornos, é um processo dinâmico, sólido, que se estrutura na acção e na teoria política.
Em 1959 esse processo passa à fase de aglutinação, isto é, há uma directiva que exorta todos os nacionalistas a abandonar a miríade de mini-organizações e assumirem a nova designação: MPLA.
Quem dirige esse processo no interior é Joaquim Pinto de Andrade, mas por pouco tempo, pois é preso e deportado em Junho de 1960, com Agostinho Neto.
O Programa Mínimo, o Programa Maior, os Estatutos, são documentos profundos, estratégicos, que não se podiam fazer num dia, demoraram a pensar, a fazer, a discutir, a aprovar.
O Programa Maior do MPLA - algo novo em África - é um autêntico projecto de sociedade para depois da independência, reflectindo os ideais de democracia dos alvores do moderno nacionalismo.
José Gonçalves, eminente nacionalista angolano, disse-me: «Tanto os nacionalistas do interior como os do exterior desempenharam um papel histórico na fundação do MPLA. sem a luta interior não haveria legitimidade para a proclamação do MPLA, tendo a informação que Viriato da Cruz levou do interior do país para fora sido fulcral para a estruturação de um único movimento aglutinador dos esforços dispersos do interior».
Oliveira Salazar ironizava assim no seu discurso perante a Assembleia Nacional: «Eles são poucos mas mudam de nomes todos os dias para parecerem muitos»
Rui Ramos
Pensar e Falar Angola
quinta-feira, 21 de junho de 2012
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