EDITORIAL DO JORNAL DE ANGOLA - IIª TRIENAL DE LUANDA 2010
O Triunfo da Arte - Pulicado aos 18 de Dezembro, 2010
A Fundação Sindika Dokolo e a Equipa da Trienal de Luanda manifestam os sinceros agradecimentos aos Artistas, ao Público, aos Parceiros, aos Patrocinadores,
e a todos aqueles que participaram directamente ou indirectamente para a realização
da II Trienal de Luanda 2010 | Geografias Emocionais | Arte e Afectos.
A Trienal de Luanda está no fim e antes que chegue a hora do balanço, é bom referir que foi um acontecimento de invulgar dimensão no panorama artístico nacional. Os espectáculos, as exposições, os debates, as presenças, as omissões, as falhas, os sucessos, tudo concorreu para um sucesso inquestionável e que obriga a felicitar os seus organizadores e sobretudo quem, no seu papel de mecenas, tornou possível um dos mais prestigiados acontecimentos culturais em Angola após a Independência Nacional.
A Trienal não serviu para desfazer equívocos, para alimentar vaidades pessoais ou para dar respostas ao sentido da arte. De resto, isso era impossível porque a vida é feita de equívocos e a vaidade faz parte da natureza humana. Quanto ao sentido da arte, grandes mestres que marcaram a Humanidade passaram a vida à procura dele e nunca o encontraram.
A Trienal de Luanda permitiu encontrar, isso sim, a harmonia, a originalidade e os elementos geométricos que são anteriores à própria existência humana. E mostrou artistas talentosos, espectáculos memoráveis, proporcionou a troca de ideias, discussões sobre estética e até filosofias de vida. Também por isto, na hora do balanço final, os seus mentores têm razões de sobra para se felicitarem porque conseguiram dar uma pedrada no charco em que Angola mergulhou e que nos colocou às portas da morte cultural.
A arte e os artistas sempre tiveram os seus inimigos jurados. O general franquista Millán Astray, quando ouvia falar de cultura, puxava logo da pistola e gritava: Viva a morte! Morte à inteligência! Nós também tivemos os nossos generais da morte, que tentaram cortar as raízes culturais do nosso povo e quase conseguiram.
A primeira vítima da guerra é a cultura. E como a morte anda à solta, ninguém a protege porque é mais importante salvar mulheres, crianças e idosos. Nós seguimos essa lógica e o resultado está à vista. Mas para dignificar a paz, surgiu a Trienal de Luanda como um farol na escuridão provocada pela morte e pelas destruições.
É preciso assumir sem ambiguidades que a Trienal de Luanda é o maior acontecimento cultural após a Independência Nacional e a ela se deve o renascer das cinzas de uma cultura popular urbana que estava em agonia, como aconteceu no palco do velho Cine Nacional, com o concerto dos Kiezos. Durante alguns meses, foi possível conciliar a massa crítica nacional com as belas artes e as artes do palco. A importância desta aliança essencial só o tempo vai revelar na sua real dimensão. Mas fica uma certeza: a arte foi colocada na agenda dos luandenses e contaminou o país.
A grande importância da Trienal de Luanda extravasa largamente o seu programa. É muito importante a oferta cultural. Mas consideramos mais importante a criação de públicos e a educação para a cultura. Até ao aparecimento da Trienal de Luanda, esse trabalho fundamental de criar públicos e educá-los para o consumo das artes, praticamente não existia ou limitava-se a acontecimentos desgarrados e inconsequentes.
Os governos sabem que é essencial trabalhar nessa vertente. Por isso, os ministérios da tutela subsidiam as artes do palco mas também os artistas plásticos. Uma sociedade que não consome produtos culturais caminha rapidamente para a desagregação ou, o que é mais grave, para a alienação. Todos sabemos qual é o fim do caminho: dependência e perda de soberania. Nenhum povo pode sobreviver sem uma massa crítica e muito menos se não for capaz de produzir cultura e elites culturais.
A Trienal de Luanda desempenhou esse papel na perfeição. O mérito vai inteiro para os organizadores e sobretudo para o mecenas Sindica Dokolo, que se empenhou a fundo para que este acontecimento cultural tivesse uma dimensão à altura dos nossos pergaminhos artísticos e culturais.
A Fundação Sindika Dokolo e a Equipa da Trienal de Luanda manifestam os sinceros agradecimentos aos Artistas, ao Público, aos Parceiros, aos Patrocinadores,
e a todos aqueles que participaram directamente ou indirectamente para a realização
da II Trienal de Luanda 2010 | Geografias Emocionais | Arte e Afectos.
Desejamos que a próxima edição seja daqui a dois anos e sobretudo fazemos votos para que a comunidade artística angolana participe activamente neste acontecimento cultural. Porque se existe um ponto fraco nesta edição, ele é atribuído precisamente aos artistas que se esqueceram do seu papel de agitadores e construtores de estéticas e gostos. A pedrada no charco que foi esta edição da Trienal merecia que os vários cultores de todas as artes nos surpreendessem com algo mais do que o óbvio ou simplesmente primassem pela ausência.
Nesse aspecto, temos ainda um longo caminho a percorrer. A comunidade das artes só faz sentido na diferença e na originalidade das suas obras. O que não faz sentido nenhum é virar as costas a uma oportunidade soberana de promover obras individuais e a cultura nacional. Os que compareceram e nos brindaram com os seus trabalhos estão de parabéns e merecem o nosso agradecimento. Aos que faltaram, deixamos um pedido: compareçam sempre à chamada das artes. Somos tão poucos que a falta de um que seja, é gritante
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