Público - 30.10.2009
Obrigado, Angola
Miguel Esteves Cardoso
Já não posso ouvir o José Eduardo Agualusa e todos os outros portugueses e angolanos cá em Portugal que não se cansam de denunciar os desmandos e a corrupção do Governo angolano.
Serviço de despertar: Angola é um país soberano; mais independente do que nós.
Tudo o que fi zemos em Angola foi para o bem de Portugal, por muito mal (ou bem) que fi zesse aos angolanos.
Mesmo assim, o Governo de Angola – e os angolanos em geral – perdoaram-nos, em pouco tempo, a nossa condescendência e a nossa exploração colonial. Os portugueses e angolanos sempre se deram bem, independentemente de quem manda em quem. Gostamos uns dos outros e aprendemos uns com os outros.
Somos muito parecidos.
Os regimes políticos dos países mais nossos amigos são como os casamentos dos nossos maiores amigos: não se deve falar deles. Entre marido e mulher, não metas a colher. De resto, não temos voto na matéria.
Fomos lá imperadores e perdemos. Portugal também não era uma democracia quando andou por Angola a tratá-la e explorá-la como uma província de Portugal, fazendo tudo para matar quem fosse contra essa exploração.
Angola está a investir em Portugal. É uma chapada de luva branca, misturada com perdão. Por muito que se critique, Angola está a pacifi car-se e a democratizar-se muito mais depressa do que Portugal de 1926 a 1976. Não trata Portugal como província ultramarina. Não interfere na nossa política. Imitemo-la nisso, por favor.
Não são só nossos amigos: são superiores a nós.
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