O sindroma da Unita.
Eu pensei que a Unita de certa forma tivesse mudado.
Sei que ainda anda em ressaca do seu passado e dos caminhos que trilharam, ou melhor, que o seu fundador levou a que trilhassem.
Samakuva, parecia-me ser diferente de Savimbi. Este fazia parte da velha escola política africana no mau sentido. Tal como o provou ao longo dos anos nos quais os angolanos de todos os quadrantes políticos, inclusive UNITA, tiveram que se haver com ele.
Isaías Samakuva, mesmo sendo um líder com pouco carisma, sempre me pareceu muito mais urbano e com uma leitura mais actualizada do que é a sociedade angolana no seu todo e quais as suas aspirações.
Ao ter dito hoje, no fim do dia de votação, que queria a repetição das eleições na província de Luanda, lançando assim a suspeita sobre estas eleições, está a hipotecar-se de vez perante todos os angolanos, inclusive junto dos militantes e simpatizantes do seu partido.
Mais que isso, é inacreditável que não tenha o sentido de homem de estado que se esperava do líder do maior partido de oposição até estas eleições.
Esquece-se que está a pôr em descrédito o seu próprio país e a instauração do sistema democrático do qual é (deveria ser) uma pedra importante.
Com essa atitude, apenas fundamentada porque algumas assembleias de voto não abriram à hora programada, está a demonstrar que ele e a Unita, estão longe de mostrarem estofo para serem credíveis como alternância ao poder actual.
Quando Angola tenta começar um novo ciclo na sua incipiente democracia, em que todo o mundo está de olhos em cima de nós, depois dos entendimentos políticos e militares que os angolanos tiveram a arte de alcançar desde o fim da guerra, e que nos levaram ao dia de hoje, não pode ser aceitável, só porque se tem medo de perder, ou não ganhar as eleições, que se tenha este tipo de atitude.
Este país é o país dele. Estas eleições são em Angola. As falhas que houve são dos angolanos. E ele tem a obrigação política, moral e patriotica de não conspurcar com argumentos falaciosos um processo do qual ele é parte integrante.
Acabo por ter que dar razão aos que me dizem que a direcção da Unita continua a ser pouco patriota, que continuam fechados, ou encerrados nos seus velhos dogmas e comezinhos interesses partidários e que estão ainda muito longe de terem interiorizado os conceitos do que é a angolanidade existente de Cabinda ao Cunene.
A lógica da Jamba continua a imperar acima dos conceitos de nação.
Tal como em 1992 não parecem saber integrar-se no país que se pretende construir, nem na democracia que deviam ajudar a edificar.
Chega de fazerem o papel de vítimas para o exterior. Integrem-se de vez na nação angolana, pois as soluções dos problemas são internos… e somos nós que votamos.
Assim não, senhor Samakuva!
Assim talvez ganhe umas palmadas nas costas dos que nos querem menorizar como povo maduro e soberano mas nunca ganhará o nosso respeito.
Kandandus
Jotta
Luanda-Angola
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